quinta-feira, junho 30, 2005

Até logo Inês!

Ontém o Artur foi buscar a Inês. Como sempre, foi o arrancar permitido do Melhor Pedaço de Mim. O abrir do buraquinho escuro que fica em mim quando a Inês não está.

Olhei para ele, aquele estranho de quem a Inês também faz parte.

Recordei sem mágoa, sem dor ou sem qualquer outro sentimento para o qual exista vocábulário para descrever, o momento em que colocou ponto final na nossa vida a dois - O Artur abraçou-me. Olhou-me nos olhos e, no tom com que outrora me dizia "Amo-te" dispara: "É incrível como já não significas nada para mim!".

Olhei para ele e pensei: incrível como ele já não significa nada para mim.

Senti que uma certa forma de compreensão pelas palavras que me pareceram duras há tempos. A lâmina perdeu o seu fio. Não corta mais.

Retomo a mim, ao espaço vazio que começa a abrir... olho para a Inês, que brinca feliz ao colo do pai.

Como gosta ela dele! Como ele gosta dela! Como eles se entendem!

Fico feliz por isso, mesmo com o buraco fundo em mim. Um Pedaço de Mim que agora não está em mim está eufórico, e isso é o que conta neste momento.

Posted by Abelhinha at 7:12 da tarde 7 comments

quarta-feira, junho 29, 2005

Final de dia acidentado

Saí do trabalho um pouco mais cedo do que a hora do costume e juntei-me à metade do meu Eu, em casa do meu recém viúvo avô.

Desde que iniciou o seu luto em Março, que hoje foi a primeira vez que saiu de casa com um objectivo lúdico. "Fui ver pessoas que já não via há 20 anos, antes que os encontre num funeral qualquer!" - diz ele em tom de uma justificação que ninguém pediu.

Regressamos a casa.

Na janela do quarto, o gato miava exausto por ter ficado acidentalmente fechado nesta divisão da casa.

A Inês (a minha filha de 3 anos) correu casa a dentro e abriu a porta do quarto, deixando no gato o anseio desesperado de voltar a fechar-se. Enquanto fugia das suas brincadeiras endiabradas, o gato arranhou-a no olho. Ela chora, a minha mãe chama por mim, com a sua incapacidade inerente de ver sangue. Peguei na Inês ao colo, levei-a à casa de banho e disse num tom doce: "Vamos lavar o dói dói Inês?"

Enquanto limpava perguntei à minha mãe se valeria a pena ir ao hospital. A Inês na sua curiosidade do que será um hospital diz: "Leva mamã, leva a Inês ao Hospital!". E lá fomos nós.

"É apenas um arranhão de gato. Fica feio mas não é grave. Se fosse dentada de gente era pior. Podia infectar!" diz a pediatra de serviço. Olhei para ela de boca aberta. "Sim ouviu bem. Dentada de gente!".

Não respondi. Na minha cabeça rodava consternada a ideia de como poderia haver numa urgência hospitalar de pediatria dentada de gente... poderia ser dentada de animal bípede, semelhante ao homo sapiens sapiens mas só em forma, porque de resto, poderia ser um qualquer ser abominável e assustador. Gente a morder crianças.

Rodava ainda mais a ideia da frequência com que deve acontecer para a médica ter usado um tom de voz tão desprendido como quem diz a ementa do dia num qualquer snack bar.

"Deves ser reguila. Estás a portar-te tão bem aqui que deves ser um diabrete quando estás com a tua mãe". A voz do enfermeiro quebrou o silêncio que estava em mim. Confirmei sorrindo. "Já está! Não é nada!"

Não foi nada para a Inês, mas foi para a mãe da Inês. Aquela mulher que se questiona se estará a fazer correctamente o seu papel. O cansaço que era tanto hoje às 20h foi esquecido às 22h, e retomado quando a Inês finalmente adormeceu de pazes feitas com o gato.

Posted by Abelhinha at 1:02 da manhã 6 comments

terça-feira, junho 28, 2005

Viagens em Silêncio

Tenho 30 anos, sou quase divorciada e vou viajar.

Vou viajar para dentro de Mim, para dentro do Mundo. Vou viajar no Silêncio rasgado da palavras ditadas pela Alma.

Adoro a Chuva, adoro andar, caminhar.

Adoro o Sol.

Amo o Mar, sentir os pés na areia...

Adoro os Livros, o papel branco desflorado pela tinta escura.

Vou ao cinema, ao teatro. Normalmente sozinha, sem sentir a alguma solidão que enche os meus dias.

Encho o meu Espaço de Mim e da minha filha, que não separo jamais de mim, nem encontro o limites que nos destingue. O Eu somos Nós.

Sigo o Caminho que ainda é estranho e dou início ao meu trajecto

Posted by Abelhinha at 6:12 da tarde 4 comments