terça-feira, novembro 29, 2005

O Colega com Sorriso de Anjo

Ontem à hora do café da tarde, o meu Colega com Sorriso de Anjo perguntou-me se o acompanhava na sua pausa. Disse que sim e levei as minhas bolachinhas e o meu chá de mentol.

Perguntei se ele era servido e ele disse que sim e acrescentou: "Estás a partilhar o teu lanche comigo e eu não tenho nada para partilhar contigo!", abriu a frigorífico da copa e disse "afinal tenho!", descasca uma clementina, parte ao meio e deu-me a parte maior.

Pensei com os meus botões que afinal não era só o sorriso que ele tem de anjo, passei o dia inteiro até àquele momento a chingar o Mocho Falante porque nos esquecemos de ir ao supermercado comprar clementinas que me apeteciam tanto, e de um momento para o outro, está ali um sorriso de anjo a descascar-me uma.

Palavra puxa palavra e lá fomos falando de tudo e de nada, partilhando não só o lanche mas também episódios das nossas vidas. Infelizmente uma pausa é uma pausa e convém que não seja demasiado longa... :(

À hora da saída cruzamo-nos no corredor e ele puxou conversa.

Ao final de mais uns poucos minutos de conversa, ele perguntou se a porta para o meu lugar de parqueamento não fechava às 20h. Disse que sim, mas que não seria a primeira vez que dava a volta para sair pela outra porta. Prontamente ele disse: "Nem penses que vais dar a volta a pé por estares a falar comigo. Vens comigo que eu levo-te até ao teu carro. Aproveito e mostro-te o meu casaco novo!"

Vi o seu casaco novo e fomos juntos até ao carro. Conversamos um pouco mais.

"Bem, está na hora!"

"Está..."

"Obrigada pela boleia."

"Obrigado pela companhia fantástica!"

"Queres um chocolate para levares para o caminho?"

"Quero. Se me ofereces a pensar: 'pode ser que ele diga que não' não ofereças muitas vezes!"

Dei o chocolate. Ele recebe.

"Posso comer depois do jantar... para pensar em ti?"

"Podes"

"Bem temos que ir andando. Tens a Inês à espera!"

Estendeu-me a mão, deu-me um aperto de mão suave e mandou-me um beijo com a ponta dos dedos.

"Até amanhã!"

Gostei da partilha, gostei do gesto, e como diria a Eva Shanti (num comentário que me deixou aqui)... gostei do resto (a companhia... o que estavas a pensar Eva Marota?)

Posted by Abelhinha at 10:37 da tarde 9 comments

segunda-feira, novembro 28, 2005

Horas de Trânsito

Depois de ler este post no blog da Vampiria, comecei a pensar porque é que todos estes programas da manhã que passam na rádio não me dizem nada, mesmo eu passando tanto tempo no trânsito.

Depois dei comigo a pensar porque é que será que toda a gente me pergunta se não dou em doida com o trajecto que tenho que fazer casa-trabalho-casa.

Parecendo que não, tanto posso demorar 35 minutos, como 2h30 para fazer os 45 km que separam a minha casa do escritório onde trabalho.

Comecei a pensar em todas as conversas que ouço sobre o trânsito e como as pessoas se comportam quando estão nas filas intermináveis.

E finalmente percebi porque é que não dou em doida, e como sou uma felizarda por conseguir transformar esses minutos, essas horas, que toda a gente considera como perdidas em algo que me faz falta.

Quando estou no trânsito nunca sei em que faixa de rodagem vou, simplesmente não reparo, presto apenas atenção aos outros que vão entrado e saindo da minha frente. Nunca nem sei qual delas é que anda mais depressa, nem ando a saltitar de faixa em faixa a tentar chegar mais cedo 5 ou 10 minutos.

Não olho para o relógio, nem ouço as informações de trânsito que vão passando na rádio. Não reparo nas informações horárias e nem ouço programas que passam sempre à mesma hora.

Quando estou no trânsito, estou apenas comigo. Disfruto da minha companhia com as ideias tranquilas de quem acabou de acordar. Penso em mim, na minha Inês, e no que posso fazer para que ela seja mais feliz, e para que todos lá em casa estejam bem.

Recordo todos os bons momentos da minha vida e choro as tristezas na tranquilidade de quem está só, estando com a companhia que mais falta faz... a sua própria companhia.

Organizo as emoções e vou cantarolando as canções que mais gosto.

Vou pensando nos amigos, o que gostaria de partilhar com eles se eles estivessem ali. Por vezes solto gargalhadas, quando a história é mesmo hilariante.

Depois recebo o telefonema de bons dias do Ícaro, mesmo antes de chegar. Falamos um pouco, torcamos tretas com ou sem importância, e chegamos ambos ao destino!

Quando chego ao escritório, estou pronta e bem disposta (às vezes tou com a neura, pronto!) para um dia de trabalho, que já sei que será duro, como todos os outros.

Quando regresso a casa, aproveito todo este percurso para ir deixando ficar para trás todas as preocupações do trabalho (nem sempre consigo, mas tento sempre), para deste modo por o coração mais bonito para o reencontro com a minha Inês.

Posted by Abelhinha at 1:57 da tarde 7 comments

quarta-feira, novembro 23, 2005

Sugestão - Fazer 2 crianças felizes

Hoje recebi esta sugestão por e-mail.

Resolvi fazer a todos vocês, principalmente a todos aqueles que têm filhotes, sobrinhos, ou afilhados pequenos.

E diz assim:

OCEANÁRIO SOLIDÁRIO
1 BRINQUEDO = 1 ENTRADA GRÁTIS = 2 CRIANÇAS FELIZES

Este ano, torne o Natal de milhares de meninos e meninas desfavorecidos verdadeiramente inesquecível. Até 1 de Janeiro de 2005, ao trazer um brinquedo, nós oferecemos a entrada à criança que o acompanhar, e o brinquedo a uma das crianças convidadas a passar conosco a Festa de Natal Oceanário Solidário. Mergulhe nesta iniciativa e dê a milhares de crianças a possibilidade de ver pela primeira vez ao vivo o Oceanário e, provavelmente, uma prenda de Natal.

Para mais informações , visite-nos em www.oceanario.pt


oceanario

Eu vou fazer 2 crianças felizes!

Posted by Abelhinha at 6:47 da tarde 6 comments

terça-feira, novembro 22, 2005

Barracadas da Abelhinha - Momento de humor

A Abelhinha está sempre a dar "barracada" e a colocar-se em situações daquelas em que mais apetece procurar um buraco para se enfiar. De tal forma que já quase que nem se embaraça.

Normalmente vou beber chá, com a minha cunhadinha linda, a um estabelecimento amoroso com toalhas coloridas e que têm pão quente sempre à hora do lanche.

Certo dia, reparei na ardósia que tem em cima do balcão onde alguém escrevera


"Levar no Pacote"

Fiquei indigandíssima com tal acto de vandalismo, num local tão simpático.

Dirigi-me à moça que estava no balcão e disse baixinho: "já reparou no que estes ordinários escreveram na ardósia?"

A moça corou e disse-me: "É o nome do estabelecimento!"

A minha cunhada desapareceu com um gesto de magia e fiquei ali parada a olhar para a rapariga. Finalmente recuperei a voz: "Ah sim? Não sabia. Quanto devo?"

Hoje ao lanche o Mocho Falante relembrou-me desta história e enviou-me por e-mail a prova provadinha de que não fui a única a achar "estranho" este nome para uma "Boutique de Pão Quente"

Posted by Abelhinha at 5:50 da tarde 7 comments

domingo, novembro 20, 2005

A Abelhinha fez anos

Hoje foi o aniversário da Abelhinha!

Apesar da dores de estômago que me acompanharam todo o dia e que me deixaram super irritada foi um dia muito feliz.

A primeira aventura foi quando o bolo chegou. A Inês sentiu-se profundamente enganada porque...

"Mamã! Este não é o Nemo! É o pai no Nemo quando encontra os tubarões. Vês mamã tem os olhos assim (e abre os olhos com ar assustado)"

Olhei para o bolo e ela tinha razão... obvio!

O bolo ia ao detalhe de colocar o sobreolho franzido com aquele ar sempre aflito do pai do Nemo.

Depois a Inês não queria cortar o pai no Nemo, coitadinho... "faz dói-dói"

A aventura número 2 foi com uma penetra no meu almocinho. Não só veio de penetra, como ainda antes das sobremesas me pediu para eu a levar a Cascais que estava muito atrasada, ingnorei... como se eu fosse deixar a minha família, para ir levar uma estranha a Cascais que aparece sem convite! (O Mocho Falante deve estar a dizer: Mais uma a confundir Pata à milanesa com pata aqui na mesa!)

Diverti-me bastante.

Senti a falta do Ícaro que por motivos profissionais não lhe foi possível estar presente.

No Sábado à noite a Trupe do Costume, lá me desafiou para um jantar e para os copos!

Estava tudo doido! Só disparates após disparates!

Mas há muito que não me ria tanto!

Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo.

Posted by Abelhinha at 11:26 da tarde 9 comments

sexta-feira, novembro 18, 2005

A Inês escolhe o bolo

Com o meu aniversário a aproximar-se, chegou a altura de ir encomendar o bolo.

Levei a Inês que ia contando a quem passava no caminho que ia escolher o bolo para os anos da mamã.

Chegamos à pastelaria e pedi o catálogo de bolos.

"Gostas deste?" - perguntei eu

"Não. É Feio!" - disse ela fazendo caretas

"E deste?"

"Muito feio!" - com as caretas ainda piores

E foi assim, até que se fez um sorriso enorme no seu rosto e ela soltou um grito:

"Este mamã! Este é lindo! Este, este!"

Nem hesitei.

"Qual vai ser? E que idade faz a menina?"

"Vai ser este do Nemo, por favor, e a menina faz 31 anos. O bolo é para a mãe!"

Posted by Abelhinha at 11:36 da tarde 6 comments

quinta-feira, novembro 17, 2005

Tangerina para me proteger

Logo depois de almoço, numa entrada ocasional na cozinha encontrei um colega meu que tem sorriso de anjo.

Sorriu para mim enquanto descascava a tangerina. "Toma!" disse-me ele num tom imperativo, estendendo-me metade da peça de fruta num gesto súbito.

Fiquei surpreendida e aceitei. Sorri.

"Espero que gostes da minha tangerina! Ajuda-te a protegeres-te."

Claro que gostei...

... da tangerina e do gesto!

Posted by Abelhinha at 11:26 da tarde 4 comments

quarta-feira, novembro 16, 2005

Coisas que não compreendo

Há coisas que me deixam muito triste.

Considero-me uma pessoa sociável, apesar de ser tímida antes de conhecer as pessoas.

Gosto de conversar, de brincar, de rir, de gargalhar... e as pessoas gostam, normalmente, de fazer tudo isto comigo.

Os meus colegas do Serviço a Clientes, a quem dei formação, resolveram fazer um pequeno jantar de convivo para todos os elementos da equipa e convidaram-me.

O chefe deles e o meu chefe, não gostaram muito da ideia, em abono da verdade não sei bem porquê, porque ambos foram ao dito jantar. O chefe deles inclusivé, já disse às pessoas da sua equipa com quem eu me dou melhor, que não conviniente estabelecerem relações pessoais comigo (seja lá o que isto quer dizer).

"Desunir para reinar" - é só isto que me vem à cabeça quando penso no que se passa.

Não compreendo este tipo de atitude e isto deixa-me triste, muito triste

Posted by Abelhinha at 6:42 da tarde 6 comments

terça-feira, novembro 15, 2005

Feitiçarias e Bruxarias Ilimitada

Por duas vezes vi o Rodrigo gerir 3 crianças pequenas da idade da Inês.

Das duas vezes disse-lhe: "Ficam-te bem 3 crianças!".

É que 3 crianças não são para todos. Só pessoas especiais conseguem manter aquela paz que vi nele de mãos dadas a 3 crianças de 3 anos, e conseguir que as mesmas 3 crianças (todas bem reguilas por sinal) se mantenham tranquilas.

"Ficam-te bem 3 crianças"

"Não digas isso. 2 é suficiente"

"Nunca te esqueças que quando planeares o segundo convém sempre pensar se queres ter 3!"

Hoje de manhã:

"Abelhinha, vou amarrar-te ao poste do jardim, deitar-te gasolina e pegar-te fogo! Vais arder na fogueira que é a sorte das bruxas!"

Dito e feito!!!

Planeou o segundo e vai ter o terceiro! São gémeos!

Se forem meninas uma tem que ter o meu nome!

PARABÉNS!

Posted by Abelhinha at 2:03 da tarde 2 comments

quinta-feira, novembro 10, 2005

"Beijo? Houve beijo?"

"Hoje almocei com o Ícaro. Ele veio cá" disse-lhe eu.

Isabel é uma mulher de 45 anos, divorciada 2 vezes do mesmo marido, e aponderar o 3º casamento também com o mesmo marido, bem disposta e extrovertida.

"Conta! Conta! Como foi?"

"Agradável. Já não conversavamos há muito tempo. Almoçamos numa esplanada de Sintra a aproveitar o Sol..."

"E mais?..." insiste ela curiosa.

"Mais? Que queres saber mais?"

Responde ela com o seu tom de voz de quem começa a ficar impaciente com tanta curiosidade: "Beijo? Houve beijo?"

"Tu conheces-me! Já sabes como eu sou... preciso mesmo de respoder?"

E não foi preciso eu responder, porque ela sabe exactamente o que quero dizer com esta frase.

Posted by Abelhinha at 11:15 da tarde 10 comments

quarta-feira, novembro 09, 2005

Ele há com cada uma!!!

Hoje foi dia de pediatra.

Na sala de espera eu e o Artur tentavamos conversar, sem nada para dizer, enquanto a Inês brincava na mini sala de brinquedos contígua à sala de espera.

Começamos a falar como dois desconhecidos falam dos filhos, e fomos partilhando a nossa experiência como pais. Pais da mesma filha.

Depois o assunto divórcio.

Apesar de me sentir satisfeita pelo assunto ter surgido com muita tranquilidade, incomodou-me que tenha sido na sala de espera de um consultório.

"Está aqui o que o meu advogado me aconselhou a fazer." E deu-me a lista do que a advogada o aconselhou a fazer.

"Tens que conseguir que a tua ex isto, aquilo e aquel'outro!" E no meio de uma série de istos, aquilos e aquel'outros surge "Aconselho-te a que fique tudo escritinho no papel que queres que ela te autorize a ver a vossa filha sempre que te apetecer!"

"Olha lá Artur! Compreendo a preocupação da tua advogada, mas não achas esta recomendação ridícula?". Não me ocorreu outra palavra senão aquela.

No nosso casamento nunca discutimos e desde que nos separamos as únicas discussões que temos é porque ele vê pouco a filha, isto é, eu acho que ele deveria ver mais a Inês - exceptuam-se as fases em que ele tem vaipes e acha que ela deveria ficar com ele.

"Isso é o que ela acha! Leva, lê com atenção e depois tratamos de tudo."

Trouxe e li com atenção.

No final de um conjunto enorme de recomendações:

"Beijinho muito grande,

Joana"

Beijinho para ti também Joana!

...

Posted by Abelhinha at 10:36 da tarde 5 comments

terça-feira, novembro 08, 2005

"Ela toma conta de nós"

No outro dia o Rodrigo, mais conhecido por Rabbit, companheiro de infortúnio e meu querido Amigo (acho que ele nem tem bem a noção da conta em que lhe tenho!) foi apresentar-me a um colega novo.

"Esta é a Abelhinha. Ela é... como vou explicar... ela está do outro lado (as nossas salas são diametralmente opostas e o meu chefe insiste em estar sempre em guerra com a equipa deles, portanto sou duas vezes do outro lado!), bem... não do outro lado, outro lado... ela... ela... (encolhia constantemente os ombros)..."

"Ela... Ela... toma conta de nós!"

Naquele instante eu não sou a colega que define os processos e procedimentos do serviço ao cliente, não sou eu que faço as especificações para sistemas necessários, como é comum apresentarem-me.

Naquele momento eu fui muito mais importante que tudo isso.

Naquele momento eu fui (e quero acreditar que sou) quem toma conta deles.

É por isso que gosto tanto dele!

Posted by Abelhinha at 10:45 da tarde 1 comments

domingo, novembro 06, 2005

Fuerza Bruta

Depois de ter maravilhado, alucinado e ter tido muitas emoções que não consegui (e nem consigo descrever) enquanto assistia ao De La Guarda, chegou a vez de repetir tudo isso... desta vez com Fuerza Bruta.

Vou já, já garantir a minha presença e comprar o bilhetinho.

91

Passem por aqui e vejam o que me espera.

Posted by Abelhinha at 12:29 da tarde 5 comments

quarta-feira, novembro 02, 2005

Respondendo ao teu desafio, aqui fica Amigão

Um dia desafiaram-me a escrever um conto. Aceitei o desafio, peguei num papel e numa caneta, sentei-me numa mesa de café e comecei.

O resultado foi um conto triste. Não vivem felizes para sempre como nos contos infantis. E também não é um conto infantil, antes pelo contrário.

Apesar de ser um pouco diferente do que aqui normalmente escrevo, vou partilhar com vocês.


Encontravam-se sempre no mesmo sítio, à mesma hora. Encontravam-se no exacto lugar em que se conheceram. Esse lugar pertencia a outro Mundo, a um mundo onde só eles podiam entrar. Não era preciso chave, nem códigos de acesso. A porta abria-se com a auria de um Nós que era ele e ela.

Aquele dia não foi diferente aos outros dias todos de meses e anos passados.

À hora certa ela sentou-se, naquele lugar azul, com cheiro a brisa marinha e paladar a sol de inicio de Inverno. Estendeu a manta xadrez e sentou-se.

Ele chegou segundos depois e sentou-se também.

Tagarelavam sobre tudo e sobre nada como costume. Mas naquele dia algo foi diferente. No meio de conversas de paixões, emoções, ilusões, desilusões, surgem acusações, provocações e mutilações.

As palavras com gosto àquele Amor profundo que só dois seres iguais entre si sentem, estavam azedas. Como se o ranço do odio, do ciúme, do rancor tivessem tomado posse da razão apaixonada dele.

Ela tentou trazê-lo de volta a si. Implorou que ele parasse. Que ao menos continuassem a conversa no dia seguinte. Ele respondeu que ela não gostava que nenhuma discussão ficasse para o dia seguinte, para não crescer na noite mal dormida.

Ele espingardou, disparou, esfaqueou, metralhou...

Ela permanecia imóvel e hirta, sentada sobre a manta xadrez como um prisioneiro perante um pelotão de fuzilamento sem venda nos olhos. De olhos bem abertos e tristes, ela permanecia imóvel e hirta sentada sobre a manta xadrez.

Ele espingardava, disparava, esfaqueava e metralhava. Cego de ciúme, de raíva não se sabe bem de quê.

Ela enquanto permancia sentada naquela manta xadrez que só tinha partilhado com ele, a sua alma tombava sobre a lama sanguenta.

O cheiro não era mais a brisa marinha, nem o paladar de sol de inicio de Inverno. Cheirava a pólvora e sabia a sangue temperado de paixão.

Ela levantou-se, enquando o resto de si permanecia à espera de socorro que não viria. Nem a morte viria. Nada viria.

Ela levantou-se saiu do lugar azul e foi tomar banho. Retirar da pele o esterco do dia.

Ele poisou as armas e viu o resto dela imóvel e inconsciente no chão.


Foi ele o seu socorro num acto desesperado de arrependimento. Pegou-a nos braços e levou-a à fonte de água pura que ali corria.

Enquanto ela tomava banho para arrancar de si o fedor que existia apenas na sua memória, ele despia a sua camisa branca - aquela cor que ele escolhia sempre que estava com ela, porque era a cor que ela gostava mais - e da camisa fazia pequenas tiras com que limpava cada uma das feridas que ele mesmo provocara.

Ela nunca mais se sentou na manta xadrez. Ele continua a velar pelo resto de ela, que ainda hoje continua inerte e não morto. Continua a velar enquanto chora, enquanto espera que algo acabe ou milagrosamente recomece. Mas nada renasce, nem nada morre.

Por vezes ela diz-lhe de longe, com o resto do amor que lhe sobreviveu:

"Não chores. Foste tu que a mataste."

Posted by Abelhinha at 1:55 da manhã 6 comments

terça-feira, novembro 01, 2005

Se me permitem: Gostaria de ser como sou!

Hoje uma grande amiga minha, disse-me com alguma preocupação:

"Não te cansas de andar sempre de ténis? Não te cansas de ser esse ser híbrido assexuado? Tens 30 anos, devias assumir-te, calçar saltos altos e botas."

Não, não me canso de andar de ténis ou mocassains. É o que eu gosto de calçar.

aqui uma vez disse que não sou o suprassumo da feminilidade, nem faço disso o meu objectivo na vida.

O facto de me vestir como me apetece, sem grandes procupações não tem a ver com desleixo. Visto-me assim porque gosto. É assim que me sinto bem.

Podia ter mais cuidado? Até podia, mas para quê? Para andar o dia inteiro sem saber como me mexer na roupa que trago vestida?

Já andei assim muitos anos e sei que essa não é uma preocupação que eu quero ter.

Gastar tarde nas compras, em vez de gastar tardes com a Inês ou um bom livro? Não, muito obrigada.

Gastar tardes na manicure, em vez de ir ver um bom filme ao cinema? Não, muito obrigada.

Lamento que a minha maneira de estar traga preocupação aos que gostam de mim. Mas importam-se que eu me reserve ao direito de ser como sou?

Posted by Abelhinha at 10:56 da tarde 2 comments