Final de dia acidentado
Saí do trabalho um pouco mais cedo do que a hora do costume e juntei-me à metade do meu Eu, em casa do meu recém viúvo avô.
Desde que iniciou o seu luto em Março, que hoje foi a primeira vez que saiu de casa com um objectivo lúdico. "Fui ver pessoas que já não via há 20 anos, antes que os encontre num funeral qualquer!" - diz ele em tom de uma justificação que ninguém pediu.
Regressamos a casa.
Na janela do quarto, o gato miava exausto por ter ficado acidentalmente fechado nesta divisão da casa.
A Inês (a minha filha de 3 anos) correu casa a dentro e abriu a porta do quarto, deixando no gato o anseio desesperado de voltar a fechar-se. Enquanto fugia das suas brincadeiras endiabradas, o gato arranhou-a no olho. Ela chora, a minha mãe chama por mim, com a sua incapacidade inerente de ver sangue. Peguei na Inês ao colo, levei-a à casa de banho e disse num tom doce: "Vamos lavar o dói dói Inês?"
Enquanto limpava perguntei à minha mãe se valeria a pena ir ao hospital. A Inês na sua curiosidade do que será um hospital diz: "Leva mamã, leva a Inês ao Hospital!". E lá fomos nós.
"É apenas um arranhão de gato. Fica feio mas não é grave. Se fosse dentada de gente era pior. Podia infectar!" diz a pediatra de serviço. Olhei para ela de boca aberta. "Sim ouviu bem. Dentada de gente!".
Não respondi. Na minha cabeça rodava consternada a ideia de como poderia haver numa urgência hospitalar de pediatria dentada de gente... poderia ser dentada de animal bípede, semelhante ao homo sapiens sapiens mas só em forma, porque de resto, poderia ser um qualquer ser abominável e assustador. Gente a morder crianças.
Rodava ainda mais a ideia da frequência com que deve acontecer para a médica ter usado um tom de voz tão desprendido como quem diz a ementa do dia num qualquer snack bar.
"Deves ser reguila. Estás a portar-te tão bem aqui que deves ser um diabrete quando estás com a tua mãe". A voz do enfermeiro quebrou o silêncio que estava em mim. Confirmei sorrindo. "Já está! Não é nada!"
Não foi nada para a Inês, mas foi para a mãe da Inês. Aquela mulher que se questiona se estará a fazer correctamente o seu papel. O cansaço que era tanto hoje às 20h foi esquecido às 22h, e retomado quando a Inês finalmente adormeceu de pazes feitas com o gato.
Posted by Abelhinha at 1:02 da manhã
6 Comments
é, já vi que é meu Karma ser o priviligiado em comentar os novos Blogs da Aldeia dos Malukos!!!!!
Mas é bom, é muito bom ter a certeza que acabou de chegar algo que nos vai dar muito prazer em ler...
Ass: Mocho Expectante
Obrigada por pores nas nossas mãos o teu coração de Mãe.
Sorte tua e da Inês. Vocês bem que se merecem.
Continuem assim. Felizes.
Beijo Emocionado do Caracol ~:o)
Olá abelhinha! venho agradecer a tua visita e já li o teu blog todo! ;-)
mas fiquei sem saber qual é o principal, se este ou o rançoso...Onde queres que te visite?
As melhoras da Inês e da gata!
Serás bem vinda nos 2. Este um pouco mais intimista, o outro mais bem disposto.
A Inês está melhor e o gato também.
Neste momento dormem ao lado um do outro.
Gotinhas de mel, para ti.
As melhoras da Inês. Tb já levei uma unhada num olho. Ficou feio, mas passou rapidamente
Bem abelhinha,
se soubesses os sustos que já apanhei com a Beatriz... desde uma vez que teve um febrão e estava toda a tremer e eu sem saber o que fazer... o que vale é que na altura não havia tantas complicações nos hospitais e aqui o Hospital Santa Maria (moro a 5 minutos) tinha urgências pediatria todos os dias (neste caso era noite)... em quedas no colégio já lhe conto duas (numa ficou com um hematoma na testa e noutra ficou sem um dente... felizmente era de leite, claro, e saiu inteiro... mas lá foi uma correria do trabalho para o colégio e do colégio para o dentista... uff...)
Bem, vou a outro... beijokas e até já...
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