quarta-feira, agosto 16, 2006

Ask the Dust

Poderia ser apenas o nome do último filme que fui ver ao cinema (em português "A Poeira do Tempo"), mas não.

Dou por mim a colocar questões à poeira do meu tempo, da minha vida. À poeira onde se fincaram minhas pegadas. Pergunto com receio da resposta.

Receio da resposta e do que quero ou não ouvir.

Receio das mágoas não ditas e guardadas e rançosas e bolorentas e mofentas e cheias de naftalina.

Mágoas.

Mágoas que guardo de quem não esperava.

Mágoas de quem me cuidou descuidando.

Mágoas de quem por momentos egoístas tomou a decisão que por certo hoje não sabe explicar.

Mágoas de quem por um dia senti nem sei bem o quê.

O que senti por ti? Pergunto e a poeira responde:

- Uma núvem.

O que senti foi uma núvem.

Uma núvem com início num cofre organizado. Ou estarias tu num caus?

Uma núvem que se esvaíu no cansaço das horas perdidas.

Queria apenas sentar-me mais perto, como a Raposa num campo de trigo.

Queria apenas ouvir o murmúrio que se calava nas lágrimas de um quarto fechado.

Queria apenas estar ali, para ti, para te escutar no silêncio do que não dizes dizendo mudo.

Queria apenas dar-te a mão e puxar-te para o caminho onde as flores crescem e animam os dias.

Queria apenas ser tua amiga.

Queria dizer-te mas não me ouviste. Tu que tanto medo tiveste que me chegaste a ofender. Tu que tanto me evitaste. Tu que tanto fugiste.

Foste tu que não sabendo tanto me feriste.

Foi o cofre que me confundiu depois de aberto.

Foi o cuidar descuidado de quem apenas não tem jeito.

Foi a núvem.

Posted by Abelhinha at 4:49 da tarde

2 Comments

  1. Blogger Mocho Falante posted at agosto 17, 2006 2:29 da tarde  
    olha voltamos à nostalgia...sim senhor!

    Vamos arribar se faz favor

    beijocas vagarosas por causa do torcicolo
  2. Blogger marta r posted at agosto 18, 2006 3:37 da tarde  
    Não acho bem culpar a nuvem...
    (estou a brincar. Gostei do texto. é bonito e cheio de sentimento)

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