Coisas...
Hoje a Inês ficou à tarde com o pai.
Apesar de eu estar de férias as saudades dela por ele eram tantas que optei por abdicar de uma tarde com ela para eles estarem os dois.
Para ocupar o vazio que já conhecem que fica quando ela não está, fui almoçar com um pequeno grupo de pessoas que me são muito especiais. São meus colegas de trabalho, mas a eles devo um bem estar imenso naquele mundo louco.
Estava com bastantes saudades deles. Não como colegas, mas como as pessoas que são. E eles são os meus Rançosos!
Depois do almoço, fui fazer umas comprinhas ao Ikea para complementar as remodelações que estou a fazer no quarto da Inês. E aconteceu algo que me deixou... nem sei que palavra usar para descrever o que senti.
Uma senhora aproximou-se de mim no parque de estacionamento e desejou-me uma boa tarde. Até aqui tudo poderia estar bem se eu não tivesse medo de estar em parques de estacionamento e não tivesse levado um valente susto.
Apesar de lavada, olhando para ela viamos rastos de drogas nos seus olhos, dentes e pelo seu corpo seco com a postura encolhida que já conhecemos a quem pede uma ajuda para comprar uma sopa. E foi isso mesmo que ela pediu, uma sopa.
Pedir uma sopa num parque de estacionamento é o mesmo que pedir uma sandes junto a uma caixa de multibanco (há uma figura na Baixa de Lisboa que faz isso). Não há sopa, não há sandes, há apenas a nossa boa fé e o nosso dinheiro.
"Dê-me uma sopinha! Tenho um filho de 2 aninhos deficiente, faz anos hoje e eu não tenho o que lhe dar de comer"
Engoli em seco. Tudo o que tem a ver com crianças a passar fome me incomoda, embora enquanto ouvia ia pensando: "Queres dinheiro para droga não é?", entretanto chegou a melhor parte do discurso da dita senhora.
"Se a senhora me desse 5€ (CINCO euros) ajudava-me tanto! É que se não levo para a pensão onde durmo ela não me deixa entrar e depois fico sem ter o que dar de comer ao meu filho e deixo de ter sítio para ele dormir! Preciso de 15€ e já tenho 10€... está aqui para a senhora ver e ver que eu não estou a mentir!"
Eu nem queria acreditar... respondi-lhe que não tinha nada trocado. Diz ela muito rapidamente: "não faz mal que eu troco!"
Se já estava incrédula, mais ainda fiquei.
Passamos de "se me der umas moedinhas" para "se me der 5€"!
Olhei para ela, 30 anos, 35 anos no máximo! Lembrei-me de um post no blog da minha querida Caracolinha sobre subsidiodependentes, e pensei: "estudei que me fartei, paguei grande parte dos meus estudos, sacrifiquei-me por mim, pelo meu futuro, pelo futuro dos meus filhos (ainda só filha!), por ser alguém. Estive um ano desempregada, separei-me nesse período e estou a reconstruir a minha vida!..."
Acham que fiquei com vontade de dar alguma esmola?
Apesar de eu estar de férias as saudades dela por ele eram tantas que optei por abdicar de uma tarde com ela para eles estarem os dois.
Para ocupar o vazio que já conhecem que fica quando ela não está, fui almoçar com um pequeno grupo de pessoas que me são muito especiais. São meus colegas de trabalho, mas a eles devo um bem estar imenso naquele mundo louco.
Estava com bastantes saudades deles. Não como colegas, mas como as pessoas que são. E eles são os meus Rançosos!
Depois do almoço, fui fazer umas comprinhas ao Ikea para complementar as remodelações que estou a fazer no quarto da Inês. E aconteceu algo que me deixou... nem sei que palavra usar para descrever o que senti.
Uma senhora aproximou-se de mim no parque de estacionamento e desejou-me uma boa tarde. Até aqui tudo poderia estar bem se eu não tivesse medo de estar em parques de estacionamento e não tivesse levado um valente susto.
Apesar de lavada, olhando para ela viamos rastos de drogas nos seus olhos, dentes e pelo seu corpo seco com a postura encolhida que já conhecemos a quem pede uma ajuda para comprar uma sopa. E foi isso mesmo que ela pediu, uma sopa.
Pedir uma sopa num parque de estacionamento é o mesmo que pedir uma sandes junto a uma caixa de multibanco (há uma figura na Baixa de Lisboa que faz isso). Não há sopa, não há sandes, há apenas a nossa boa fé e o nosso dinheiro.
"Dê-me uma sopinha! Tenho um filho de 2 aninhos deficiente, faz anos hoje e eu não tenho o que lhe dar de comer"
Engoli em seco. Tudo o que tem a ver com crianças a passar fome me incomoda, embora enquanto ouvia ia pensando: "Queres dinheiro para droga não é?", entretanto chegou a melhor parte do discurso da dita senhora.
"Se a senhora me desse 5€ (CINCO euros) ajudava-me tanto! É que se não levo para a pensão onde durmo ela não me deixa entrar e depois fico sem ter o que dar de comer ao meu filho e deixo de ter sítio para ele dormir! Preciso de 15€ e já tenho 10€... está aqui para a senhora ver e ver que eu não estou a mentir!"
Eu nem queria acreditar... respondi-lhe que não tinha nada trocado. Diz ela muito rapidamente: "não faz mal que eu troco!"
Se já estava incrédula, mais ainda fiquei.
Passamos de "se me der umas moedinhas" para "se me der 5€"!
Olhei para ela, 30 anos, 35 anos no máximo! Lembrei-me de um post no blog da minha querida Caracolinha sobre subsidiodependentes, e pensei: "estudei que me fartei, paguei grande parte dos meus estudos, sacrifiquei-me por mim, pelo meu futuro, pelo futuro dos meus filhos (ainda só filha!), por ser alguém. Estive um ano desempregada, separei-me nesse período e estou a reconstruir a minha vida!..."
Acham que fiquei com vontade de dar alguma esmola?
Ass: Abelhinha um pouco revoltada
Posted by Abelhinha at 9:46 da tarde
5 Comments
acho mesmo que não :( eu não ficaria... é triste vivermos num país onde somos diariamente abordados por pessoas que nos pedem dinheiro... eu já fui muito sensível a essas questões, cheguei a estar envolvida em projectos de distribuição de comida mas um dia acordei e gelei, nunca mais! dias há em que me consigo comover... mas têm de ser muito convincentes, muito mesmo. não deixo de me entristecer, sou é mais racional e egoísta também.
Um beijinho para a abelhinha-mãe mais doce que eu por este mundo virtual encontro :)
Minha querida abelhina, que bom saber que neste mundo virtual a partilha de experiências nos ajuda a tomar decisões ...
Acho incrível como é que continua a ser possível que num pais como o nosso se continue a aceitar, e pior, a fomentar, este tipo de comportamento.
Vou-te contar uma que uma vez me aconteceu: ia eu fresquinha depois de sair de casa da minha mãe e, quando ia a passar junto a uma paragem de autocarro fui abordada por um tipo que teria, no máximo 28 anos, e me disse: de-me ai "qualquer coisinha" (adoro esta expressão) porque eu amanhã tenho que me levantar às 8 da manhã para ir ao centro de recuperação. E eu respondi-lhe: ai tem? pois eu amanhã tenho que me levantar às 7.30 para ir trabalhar para continuar a descontar para você poder seguir a usufruir das suas consultas de graça.
Juro-te, nem sequer olhei mais para a cara dele. O que me angustia profundamente não é pensar que as pessoas não merecem apoio. Claro que toda a gente merece ser apoiada. Mas o que me revolta verdadeiramente é pensar que se queres gente para fazer certo tipo de trabalhos tipo carpinteiros ou canalizadores tens que esperar meio século porque não há quase ninguém para trabalhar. E estes gajos andam aqui de corpinho bem feito sem fazer nada todo o dia, nem se esforçam. Porque sabem que se não fizerem alguém há-de fazer por eles.
Pergunto: porque é que continua a haver dinheiro para sustentar coisas destas e não há dinheiro para se ajudar e dar apoio à 3ª idade, constituída, em grande parte, por pessoas que trabalharam uma vida inteira e hoje têm reformas de míseria ????
Desculpa ter-me esticado no comentário querida abelhinha, mas tudo isto me revolta imenso.
Obrigada pela menção ao meu texto. Foi bom, muito bom, saber que gostaste.
Beijo Encaracolado Revoltado ~:o)
Agripina:
Muito obrigado pelas tuas palavras de carinho!
Caracolinha:
Eu é que agradeço que tenhas escrito aquele texto! E no meu blog podes esticar-te à vontade
Beijinhos enormes às duas
olá
Acho o blog sensasional.
Publicitem-me este blog... please...
www.musicaparacerimonias.blogspot.com
Fizeste bem em não dar. Se fosse comigo não dava, a menos que lhe pudesse dar mesmo o prato de sopa!
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