sábado, agosto 06, 2005

"Hoje estava Calor, achei que era um sinal"

Ao longo de todos os meus posts tenho exposto despudoramente os meus sentimentos e emoções, mas nem sempre fui assim.

É preciso aprender a Amar, manifestar Amor, as Emoções... é preciso aprender a articular as palavras para que o ruído de uma não engula o silêncio do que queremos prenunciar.

Hoje conversei com o Afonso. Ligou-me. Se a nossa vida fosse um conto de fadas, estariamos juntos há 16 anos, há muito que teriamos perdido a conta aos meses e já nem existiriam dias como unidade de medida. Ele foi o meu primeiro namorado. O meu primeiro Amor. Mas a nossa vida não foi um conto de fadas, seria no máximo um romance trágico, típico de Nicholas Sparks onde os encontros, desencontros e mal entendidos são o fio condutor da história.

Nunca senti que ele me amava, nem como o Amor que se sente na adolescência, que em alguns casos muito especiais crescem e evoluem conosco para o resto das nossas vidas.

Nunca consegui manisfestar um Amor que julgava maior que o dele. Porque deveria? Pensava eu com a minha impertinência típica de 14 anos ou 16 anos. Para ficar a perder?

Era como se no Amor quem sentisse mais perdesse.

Hoje descobri que para não perder no Amor perdi o Amor.

Como se uma porta ao passado tivesse sido aberta, eu tivesse viajado até lá invisível e visse tudo com os meus olhos de agora.

As dúvidas, as incertezas, os medos que então tinha não eram apenas meus. Por cada vez que me senti em segundo lugar, Afonso também se sentiu; por cada aperto que tive no peito Afonso também teve.

Lembro-me da última vez que estivemos juntos. Fomos jantar e depois ele trouxe-me a casa. O tema da nossa conversa foi o Artur (o pai da Inês). Ao deixar-me na porta, Afonso diz-me que tudo o que outrora sentira por mim poderia renascer se nos continuassemos a encontrar. Fiquei sem resposta. Fez-me prometer que no dia em que casasse lhe dizia. Prometi, não cumpri e durante 5 anos não trocamos nem uma palavra.

Quando me separei, foi o colo dele que desejei.

Quebrei o meu silêncio e liguei para casa dos seus pais. A sua doce mãe, senhora adorável de olhar meigo e voz carinhosa diz-me, em tom baixo, depois de me receber com a voz aberta do reencontro: "O Afonso casou, regressou ontém de lua-de-mel". Fingi que aquilo que acabara de ouvir nada significava.

Falei com ele mais 2 ou 3 vezes para manter a aparência e afastei-me, resignando-me por ter chegado tarde.

De toda a história que tivemos em comum ficou a nostalgia insolúvel.

Hoje conversei com Afonso.
Despimos os trajes do Orgulho como quem já não tem nada a perder e exorcizamos o que está por dizer há 14 anos.

"Hoje esteve calor, achei que era um sinal" disse ele "Fala-me de ti! Quero saber o que foram os teus últimos 14 anos!"

Posted by Abelhinha at 4:25 da manhã

8 Comments

  1. Blogger JNM posted at agosto 06, 2005 1:35 da tarde  
    Abelhinha. A tua escrita é uma delícia. Este post é muito comovente, porque prova que o verdadeiro amor nunca morre, apesar de afastamentos e das póprias pedras que colocamos no nosso caminho.

    Quero dizer-te do fundo do coração que é trágico que deixemos as coisas correr nas nossas vidas às vezes pensando que os outros permanecerão iguais...14 anos depois uma porta abre-se de novo para voltares onde deixaste tudo inacabado. Essa oportunidade fantástica deixou-me feliz, muito. Nem inmaginas como ao ler este texto o caração se apertou e se amoleceu.

    Que bom que isto te aconteceu...
  2. Blogger Caracolinha posted at agosto 06, 2005 1:49 da tarde  
    Fico muito feliz por poder partilhar contigo este momento... exorcizar, neste sentido, é do melhor que há !!!!

    Beijinho Abelhudo !!!! ~:o)
  3. Blogger Cristina posted at agosto 06, 2005 4:12 da tarde  
    Olá Abelhinha,

    Por incrivel que pareca já vivi um caso semelhante a esse, só que numa segunda tentativa, também não deu resultado...

    Adorei a forma como descrevestes esta parte da tua vida, que se vê que é muito importante para ti

    Um beijinhuu e um óptimo fim de semana

    :)
  4. Blogger Nina posted at agosto 06, 2005 9:31 da tarde  
    olá :)
    Por vezes perdemos tudo de bom k podemos vir a ter pk nos calamos...pk n deixamos fluir os nossos sentimentos... :(

    Beijinho

    Ps: Qto à tua pergunta no meu blog..tens a autorização necessária ;)
  5. Blogger Mocho Falante posted at agosto 07, 2005 3:35 da manhã  
    é pá foi dada cá uma liberdade aos sentimentos que até estremeci... sim senhor!
  6. Blogger Wakewinha posted at agosto 07, 2005 4:36 da tarde  
    É difícil explicar o porquê de me ter sentido arrepiada por te ler... =$
  7. Anonymous Anónimo posted at junho 07, 2006 3:37 da tarde  
    Estranho...não sei quem és mas contaste uma história tão parecida com a minha... Os anos de silêncio, até no meu nome acertas?!... Coincidências...mas se não for...nunca soube de nenhum telefonema...
  8. Blogger Abelhinha posted at junho 12, 2006 8:03 da tarde  
    Afonso:

    Certamente será coincidência.

    Nunca escondi que tudo o que escrevo no meu blog é real, mas também nunca escondi que uso nomes diferentes para preservar a privacidade das pessoas de quem falo.

    Afonso foi o nome que escolhi para essa pessoa, não o nome que ele efectivamente tem.

    Obrigada pela vistia e volta sempre.

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