sexta-feira, março 31, 2006

Volto já

Já se sentiram a ter uma conversa de surdos para a qual não encontram saída?

Tenho-me sentido assim.

Conversas de surdos por todo o lado. Estou a explodir, de frustração.

Para já porque tenho um feitio difícil como tudo, depois porque tenho dois pesos e duas medidas para algumas coisas.

Quero com isto dizer que, quanto mais gosto das pessoas, quanto mais elas representam para mim, quanto mais preciso delas, mais exigo também. Exigir poderá não ser um termo correcto, porque não devemos exigir nada de ninguém, mas as minhas expectativas são muito mais altas em relação a essas pessoas. As suas fraquezas e defeitos caiem em mim com um peso bombástico.

Se por outro lado, e apesar de gostar das pessoas, gosto menos delas, espero menos, e as suas fraquezas afectam-me muito menos.

Se as fraquezas me afectam mais, tenho mais dificuldade em ultrapassar.
Se as fraquezas me afectam menos, tenho mais facilidade em ultrapassar.

Isto significa que:

- Se gosto muito muito das pessoas tenho mais dificuldade em ultrapassar/desculpar as falhas que essas pessoas têm comigo.

- Se gosto menos, passo por elas como se nada fosse.

Vistas as coisas desta forma: não é injusto? É que compensa para os outros não serem amados por mim.

Claro que quem gosta verdadeiramente de mim sente-se injustiçado em relação àqueles que gostam menos de mim.

Parece-me que vou fazer um recolhimento até ser capaz de lidar comigo e ser capaz de lidar com os outros.

Volto quando além de falar a mesma lingua fale a mesma linguagem que o resto do mundo

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quinta-feira, março 30, 2006

93 anos não perdoam

Uma vez disse aqui que falaria do que passei no hospital, quando sentisse que havia chegado a hora.

Hoje ao ler este post lembrei-me de um episódio que vivi enquanto esperava pela operação nas urgências.

As macas amontoavam-se ao lado umas das outras em filas de 4 ou 5.

A minha tinha passado a noite no corredor da UCI, um lugar mais próximo da morte, mas mais tranquilo e sem luzes a bater nos olhos e sem os gemidos dos velhos abandonados em véspera de Natal como ruído de fundo.

Pelas 7h30, a hora do despertar no hospital, sou devolvida à confusão das urgencias. Após uma noite mal dormida a olhar para o relógio em cima da minha maca, o cenário ainda é mais desolador.

Era a única pessoa, não acidentada, com menos de 60 anos.

Largaram-me no monte de macas. As macas iam rodando, ao ritmo da vida hospitalar, o que quebrava a monotinia dos minutos que tardavam a passar. Um a um, os pacientes iam sendo levados para o banho. O monte das macas ia-se mutando em si mesmo sem deixar nunca de ser um monte.

Ao meu lado o Senhor António. Queixava-se de dores nos pés e acordou a implorar gelo. Tinha 93 anos. Ao despertar ficou atorndoado com as mudanças que ocorrerram à sua volta. Não reconhecia o monte onde se encontrava.

Olhou para mim assustado. Sorri e disse um simples bom dia.

Respondeu e começou a falar.

- Doiem-me os pés. Queria gelo. Não me dão gelo. Dizem que está frio. Mas são elas que vão sentir o frio? Não, sou eu! Porque é que não me dão gelo?

- Se calhar o médico não deixa.

- Água! Poderei beber água? Estou tão mal disposto. Senhor, senhor - chamava pelo enfermeiro - estou mal disposto.

- Vou buscar um saco para se tiver vontade de vomitar.

Durante os minutos seguintes o Senhor António, descreveu-me a sua casa, a sua família que não sabe que ele está no hospital, a sua terra, as suas couves e as suas batatas.

Ouvi, mesmo sem a paciência que a minha dor física me roubava lentamente. Afinal, estava ali também porque não ouvir o Senhor António?

Quando finalmente trouxeram o saco, o Senhor António pediu para se voltar para o lado. Estava cansado, os 93 anos não perdoam.

Levaram-me para o banho e dali novamente para o corredor próximo da morte. Não vi mais naquele dia o Senhor António.

A última vez que fui ao hospital à consulta onde o médico me daria alta, passou por mim no corredor uma maca. Era o Senhor António, que ainda andava por lá, um mês e meio depois.

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quarta-feira, março 29, 2006

É preciso paciência

Há tempos um sujeito que conheço fez-me uma proposta indecente: uma noite bem passada (ou não!) no Palácio Belmonte.

- Vamos jantar ao Palácio de Belmonte, depois eu levo-te à Suite Padre Himalaya, faço-te uma massagem e deixo-te a dormir. Afinal não é tão indecente assim... - dizia ele.

Cordialmente recusei a proposta. Mas, talvez por ter sido cordialmente ele não ouviu o meu Não. Ou então é daqueles que tem como regra:

"Quando uma mulher diz não, quer dizer Talvez
Quando diz talvez quer dizer Sim
Se diz sim, não é Senhora"

Ou seja, ele não me largou a porta durante dias a fio. Até que achei que o melhor era por a cordialidade de lado e resolver o assunto de uma vez por todas.

- Quando vamos ao Pálácio?
- Não vamos.
- Não? Não queres ir ver?
- Não
- Mas não tinhas como sonho conhecer o Palácio?
- Há sonhos que devem ser mantidos como sonho para termos alento. Esse é o meu. Quero realizá-lo sozinha, pelos meus meios.
- É uma forma de ver as coisas. E eu a achar que ia ser eu o homem a que te guiaria na realização desse teu grande desejo.
- Mas não és. (confesso que nesta fase comecei a perder a paciência)
- Fiquei mesmo triste agora. Se tu me dissesses que sim, ficava muito mais animado. Aquele lugar é mesmo mágico. Então a Padre Himalaya, com aquela vista 360º sobre Lisboa...
- Eu sei. Se não fosse não seria o meu sonho.
- Devias mesmo ir. Animavas-me o dia e realizavas o teu sonho. Aquele espaço não tem descrição. Fiquei mesmo triste, eu a pensar que me ias alegrar e dizer que sim.
- Deixa estar, não te animas hoje comigo, animas-te na 6ª feira quando te sair o Euromilhões. (Já completamente exasperada)
- Também me animava. Mas se tu dissesses que sim, animavas-me o dia hoje também.
- (FURIOSA) Não adianta fazer beicinho, porque eu não vou mudar de ideias. Eu não vou ao Palácio.

Há motivos pelos quais um homem deve chorar.
Há motivos pelos quais é sexy um homem chorar.
Mas em nenhum dos casos, o motivo é uma noite bem passada (ou não!). Pelo contrário.

Tirem-me deste filme!

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terça-feira, março 28, 2006

Amo-te não sabes?

Amo-te, não sabes?

Sabes mas esqueceste?

Sabes mas não aceitas em ti?

Estou num beco, daqueles sem saída, daqueles sem rede para subir e fugir pelas traseiras.

Amo-te, não sabes?

De que altura será este muro? Estes prédios à minha volta?

Que profundidade tem este beco? Quantos metros andei aqui até me perder? Quantos? Diz-me!!!

Amo-te, não sabes?

Queria largar esta pele, que ainda cheira a ti.

Queria arrancar da minha boca o sabor do teu beijo.

Queria sujar as minhas mãos para deixar de sentir o toque da ultima vez que andamos feitos um na rua.

Queria lembrar que já não somos e aceitar ser com outro alguém, um alguém qualquer, um alguém sem nome.

Qualquer um que me faça apagar a memória da tua existência em mim.

Mas cada centimetro do meu corpo de recorda, com a certeza do ontem que ainda foi hoje.

Mas a cada pestanejar é a tua cara que vejo.

Mas a cada silêncio é a tua voz que ouço.

Onde estás tu?

Lembraste de mim?

Recordas o sabor que tinham os nossos dias?

Onde estás tu?

Amo-te, não sabes?

Posted by Abelhinha at 5:34 da tarde 5 comments

Tesouradas

- A tesoura dos meus bordados? - pergunta a minha mãe enquanto procura a tesoura que é usada exclusivamente por ela para os seus bordados.

- Não vi. - Respondi eu, enquanto acabava o trabalho de casa da última aula de teatro.

- Está na sala ao pé da janela que tem as cortinas brancas. - Responde a Inês

- Quais? Da janela grande ou pequena? - pergunta novamente a minha mãe

- Da pequena. Aquelas que eu cortei. Eu mostro-te vó.

Eu e a minha mãe olhamos uma para a outra. Será que ela cortou mesmo as cortinas?

Lá foi ela a correr.

- Vês vó? Está aqui a tesoura e está aqui a cortina que eu cortei. Ficou bonita não ficou avó?

- Inês!!!! Não podes cortar as cortinas. Como é que a avó agora vai fazer para arranjar isto?

- Não te preocupes vó. O Tio cola.

E volta a correr para ao pé de mim e diz:

- A Avó está zangada comigo. Mas ela tem razão. Eu cortei as cortinas da janela. Era para ficarem bonitas mamã!

Lindo serviço ela me arranjou. Lá tive que conter o sorriso que a forma como esta confissão foi feita me causou e lá tive que lhe dizer que isso não se faz, que a avó fica triste e que ela não pode repetir.

Mas sinceramente aqui entre nós, não me parece que eu tenha sido muito convincente. Espero que não lhe passe tal ideia pela cabeça outra vez.

Posted by Abelhinha at 10:48 da manhã 2 comments

sexta-feira, março 24, 2006

Histórias de Crianças para Adultos

A Inês ontem esteve a contar-me histórias para me adormecer:

"Era uma vez um principe que era cavaleiro e não queria casar.

Ele estava preso. Partiu a janela e saltou muuuuiiiiiito alto. Bateu com a cabeça e fez dói-dói. Fez muito sangue.

Chamou a mãe que era a rainha para lhe por um penso.

A princesa estava triste porque queria casar.

Ela fugiu para o bosque e o pai que era rei disse que o bosque era escuro que ela ia perder-se.

Ela perdeu-se.

Chamou o principe a gitar muito, muito.

O principe que era cavaleiro e que não queria casar foi buscar a princesa. Foi no cavalo e levou uma espada muito grande, apontada para o sol (ela levanta o braço).

A princesa deu-lhe muitos beijinhos porque estava com saudades.

Eles casaram porque tinham um amor muito amoroso e viveram felizes para sempre."

Posted by Abelhinha at 11:26 da manhã 4 comments

quarta-feira, março 22, 2006

Momento Inesquecível

A Inês não gosta de dar beijos por obrigação, apesar de ser naturalmente beijoqueira quando não lhe pedem beijos.

Para o Biso ter direito a beijo, tem que lhe dizer que não quer beijos e que se ela quiser terá que os "roubar". Ela acha piada a isso e vai "roubando" beijos sem parar enquanto está com o Biso.

Ontem não foi excepção.

À hora da despedida o Biso pediu-lhe um beijo. Ela não deu.

Disse-lhe ao ouvido:

- Vai roubar um...

Ela foi. O Biso disse-lhe de imediato:

- Oh! Roubaste um beijo?!

Ela choraminga e diz:

- Não roubei, eu "di"

Continua a choramingar até chegarmos à FNAC para ir levantar os bilhetes para o Noddy.

Ao estacionar no parque, ela saiu da sua cadeira, vem para o banco da frente e pergunta-me:

- Mamã, vamos ser amigas para sempre?

- Claro filha, para todo o sempre e para a eternidade.

Ela abraçou-me e deu-me um beijo especial.

Posted by Abelhinha at 4:05 da tarde 4 comments

segunda-feira, março 20, 2006

Obstáculos

No nosso Workshop chegamos a um momento em que cada vez as experiências são mais pessoais e interiores.

Verbalizar neste espaço, algo para o qual n existem palavras pode ser complicado, pode perturbar a minha própria emoção com as coisas.

Preciso de sentir e depois verbalizar... para mim, no meu Moleskine. Usar as palavras livremente, sem preconceitos, sem limites.

Esta é a minha forma de ultrapassar alguns obstáculos que me têm surgido.

E quem sabe se um dia partilho, não só os sentimentos, como também o seu amadurecimento e envelhecimento.

É que nem todos os sentimentos, com o passar do tempo ficam a cheirar a mofo. Uns quantos ficam com aromas a frutos silvestres e a flores.

Posted by Abelhinha at 1:09 da tarde 4 comments

quarta-feira, março 15, 2006

Emoções (Fortes, muito Fortes!)

Ontem a aula do nosso workshop foi FABULOSA.

Fizemos um exercício de Máscaras. A ideia era conseguirmos ir buscar emoções ao nosso Buraco Negro e deixá-las sair.

A Máscara proposta foi um sorriso. “Emoções boas” pensou o Ensinador (ele prefere pensar-se como alguém que ensina do que como professor). Mas não… as emoções foram diversas, mas nenhuma das que normalmente se associa a um sorriso.

Se uma colocação muscular de um sorriso nos trás emoções como raiva, tristeza, desespero, despedidas, com que colocação muscular guardaremos a alegria, a felicidade, o encontro? Isso terá que ser descoberto no futuro.

Tínhamos que usar essa máscara e dizer palavras como Borboleta, Amoroso e Amor, transmitindo as emoções que rompiam de dentro de nós, quebrando o escuro da inconsciência.

Demorou… mas de um momento para o outro entre gritos e sussurros lá estavam elas… as Emoções, transparentes, claras, sobre a forma de palavras, rostos e corpos que se moldavam a elas… e as Emoções iam ganhado uma Identidade.

“Parou… Relaxou… saiam do exercício devagar, regressem devagar….” Dizia o Ensinador enquanto nos passava as mãos pelos ombros e braços expulsando a Emoção recém-chegada.

“Sentem-se… como foi?”

Estava tonta… foi como se tivesse entrado numa espécie de transe e tivesse sentido a Emoção que a minha vida me obriga a esquecer.

Estávamos todos emocionados. Além daquilo que foi testemunhado não tomei a percepção da experiência que os outros estavam a ter. A minha era já rica o suficiente.

O Ensinador explicou-nos para quê que esta experiência era importante e quais as regras a seguir para que este tipo de exercício corresse sempre bem. Eu focava-o. Já o faço com naturalidade naquele espaço. Uma das nossas primeiras lições foi focar o interlocutor ou a pessoa com quem contracenamos.

Eu focava-o. Ele exemplificava como poderemos chamar a tristeza. Eu focava-o. Ele focava-me. Os olhos dele iam enchendo-se de lágrimas e ele diz: “Se neste momento eu dizer ‘Eu te amo’ eu estou a despedir-me”. E neste momento a Emoção do Adeus cresceu no meu peito e chorei. Respirei para memorizar a emoção. E pedi um momento para mim, para viver a nova descoberta.

Descobri muitas coisas nesta aula, tantas que não seria possível descrever todas elas neste pequeno espaço e penso que nem há palavras para descrever! Mas a mais importante delas é que aprendi o que realmente quer dizer:

“EMOCIONAR-SE”

Posted by Abelhinha at 11:52 da manhã 6 comments

segunda-feira, março 13, 2006

Verbo Aproximar

Eu aproximo-me
Tu aproximas-te
Nós abraçamo-nos

Posted by Abelhinha at 4:36 da tarde 2 comments

Sábado à tarde

Eram 14h30 e estava um belo de um sol. A temperatura convidava a passear. Mas nós tinhamos uma aula extra do nosso workshop de teatro. Desta vez com uma professora diferente.

Fomos até ao espaço dela, sito na Praça da Alegria.

Foi divertido, aprendemos algumas coisas, mas não foi uma experiência tão rica como o habitual. Muitos dos exercícios feitos fazia eu na escola e mais tarde com os amigos nas festas de pijama.

No inicio da aula fomos convidados a oferecer aos outros um adjectivo e no final a mesma coisa. Pelo menos fiquei a saber como é que aquele grupo de pessoas que me conhece há tão pouco tempo me vê.

No inicio da aula diziam isto de mim:
  • Madura
  • Complexa
  • Mundo interior rico
  • Amiga
  • Extrovertida

No final da aula diziam isto:

  • Um amor
  • Tímida
  • Sempre em cima
  • Uma lutadora com mais capacidade do que aquilo que pensa

Falta um. Curiosamente a pessoa que me conhece há mais tempo não foi capaz de me definir.

Não gostei de algumas correcções que foram feitas. Era suposto não seguirmos regras, mas sim o nosso instinto. Não conseguimos, apesar da falha não ter sido nossa mas da pessoa que encaminhou a aula.

Também não gostei da forma que ela usa para motivar as pessoas. "Agora vamos fazer um exercício que é provavél que vocês não consigam porque só está ao alcance dos actores profissionais!". Lá fizemos todos o exercício, sem grandes dificuldades pareceu-me.

Será que somos todos profissionais? Vamos lá encher os palcos do D. Maria ou do S. Luiz.

O nosso professor nesta aula juntou-se a nós como aluno. No final, ao despedir-se de mim abraçou-me e disse: "Adoro este grupo!"

Posted by Abelhinha at 4:08 da tarde 3 comments

sábado, março 11, 2006

Verbo Empurrar

Eu empurrei
Tu empurraste
Nós ficamos longe

Posted by Abelhinha at 12:57 da manhã 3 comments

sexta-feira, março 10, 2006

Faz hoje um ano

Faz hoje um ano que partiste.

Faz hoje um ano que repousas nas estrelas e que de lá olhas por nós.

Ainda hoje a Inês diz que vai olhar para as estrelas para ver a Bisa. Lá estás tu, com todo o teu brilho, mais brilho do que qualquer astro que te faça de leito.

Faz hoje um ano que partiste.

Despediste-te de nós, um por um. Esperaste por todos, mesmo por aqueles que estavam longe. Disseste Adeus e partiste.

Partiste para alívio teu e nosso, por ti. Mas em nós ficou a dor da saudade de não estares mais junto a nós.

Lembro-me do último momento que estive contigo. Segurei a tua mão e disse-te:

- Vó, falta pouco para esse sofrimento acabar! Quero que saibas que te amo muito.

Ali estavas tu. Deitada na cama onde passaste os teus últimos 6 meses. Ouviste o que te disse. Acenaste um pouco com a cabeça, tanto quanto a força que te restava e que a respiração não roubava. Dei-te um beijo e vim para casa. Sabia que jamais te veria com vida.

Falei com os outros que estavam também ali para se despedirem de ti. Disse-lhes que iria cancelar a reunião do dia seguinte, porque tu já não estarias entre nós. Responderam:

- Ela pode ficar ainda muitos dias assim. As nossas vidas não podem mudar por uma espera.

No dia seguinte, durante a reunião recebo um sms:

"A Avó já dorme"

Não voltei a ver-te. Sabia que o teu desejo era não seres vista depois de partires. Cumpri o que tacitamente todos tinhamos prometido. Cumprimos todos menos a estúpida da histérica da tua irmã que se portou muito mal neste dia cheio de dor (e continua a comportar-se agora na dor da tua irmã mais nova que tanto está a sofrer. Tem o mesmo mal que tu.)

Hoje foi o dia da missa. Não concordo com estas missas que um ano depois apenas servem para abrir as feridas mais ou menos fechadas. Mas fui, pelo avô e pela minha mãe.

Fui a pé desde a tua casa até à igreja. Fizemos este percurso tantas vezes as duas a pé durante a minha infância. Iamos comprar lãs para as camisolas que tricotavas para mim e para os meus irmãos - bem, tricotavas para toda a família, até para os meus bonecos.

A Inês ainda veste aos seus bébés alguns dos casacos e dos chapéus e dos cachecois, que fizeste com essas mão tão prendadas para os meus.

Fui a pé e recordei os momentos maravilhosos que passámos juntas.

Lembraste que o meu castigo era não ir para tua casa?

Tinhas umas bolsinhas onde guardavas as joias. Lá dentro, todas elas estavam com uma etiqueta onde dizias a quem deveria ser entregue. Tinhas tudo o que te era precioso naquelas bolsas. E a mim calhou-me o mais precioso de todos esses bens. No meio das tuas joias lá estavam eles, os bilhetinhos todos que te escrevi ao longo dos anos. Dezenas deles. Desde as simples declarações de amor, aos pedidos de desculpa.

Guardaste-os todos, todos estes anos.

E faz hoje um ano que partiste e fez ontem um ano que te beijei pela última vez.

Quero que hoje um ano desde que partiste me ouças gritar para a estrela onde repousas, que me ouças mais uma vez dizer:

EU AMO-TE AVÓ!

Posted by Abelhinha at 11:04 da tarde 6 comments

quinta-feira, março 09, 2006

O que é o Projecto Esperança?

Não se pode exprimir por palavras a dor de um pai e de uma mãe ao perder o que de mais precioso têm na vida, o seu filho. Não existem palavras que traduzam o desespero e o sofrimento de uma criança a quem lhe é roubado o mundo em que vive.

Não queremos nem podemos ser indiferentes a toda esta infelicidade que nos rodeia, se cada um de nós der um pouco do seu tempo, do seu trabalho e da sua força podemos mudar algo. O nosso pouco pode levar muita esperança aos que dela vivem.

Desenvolvemos alguns cartões que poderá colocar facilmente no seu site pessoal, comercial ou blog. Estes cartões têm fotografias e informações de crianças desaparecidas em Portugal.

A internet é um poderoso recurso no combate a este tipo de problemas. Juntos poderemos levar estes rostos a milhares de pessoas.

Não permita que estas crianças caiam no esquecimento. Colabore!

Posted by Abelhinha at 10:52 da tarde 1 comments

Privações

É regra do nosso Workshop que depois de cada aula temos que escrever o que sentimos.

O título é a palavra que no final de cada aula dizemos como sendo aquela que melhor a define.

Privações, foi a que escolhi na última aula.

Fomos privados dos sentidos para sentirmos melhor os outros e para que surgissem imagens isentas de preconceitos nas nossas cabeças, vindas directamente do nosso imaginário.

Gostei desta parte da aula.

Gostei de ensinar o meu corpo a recordar-se ele próprio dessas imagens e a reproduzi-las.

Mas o balanço final da aula foi: Não Gostei!

Não senti empatias.

Houve perturbações que me deixaram bastante incomodada.

Não me consegui ligar ao trabalho como gostaria.

Senti que não pertencia àquele espaço.

Esperemos que o que senti tenha sido apenas resultado de uma série de forças exteriores ao próprio curso e que nas próximas aulas sejam ultrapassadas. Senão terei que abandonar este projecto.

É como diz o meu querido Mocho Falante: "Na nossa idade o que importa é o conforto!"

Posted by Abelhinha at 12:30 da tarde 0 comments

domingo, março 05, 2006

Sonhos Co'rosa

8 da manhã. A Inês enfia-se timidamente debaixo dos meus lençois.

10 da manhã. Acordo com ela a rir bem alto.

- Mamã! Mamã! Tive um sonho. Foi tão divertido. Estava a brincar com muitas bolas, muitas, muitas!

Quem me dera ter sonhos assim divertidos, em vez destes que me tiram o descanso prometido da noite e me dão este ar de morta viva há alguns dias.

Quando terá sido a última vez que dormi bem?

Dorme bem Inês. Dorme minha querida. Sonha, sonhos divertidos, com bolas, brinquedos, gelados e tudo o que tu gostas.

Como tu me dizes todas as noites quando te deitas "Sonhos Co'rosa" meu Amor!

Posted by Abelhinha at 2:16 da tarde 4 comments

sexta-feira, março 03, 2006

Coincidências

Será que existem coincidências? Será que as coincidências são mero acaso? Será que são mensagens do Destino? Será que são mensagens da Vida de si e per si?

Acasos…

… Pancadas nos olhos que nos fazem notar o que está mesmo à nossa frente e que nos recusamos a ver.

Ou será exactamente o oposto?

“Desevidências” colocadas debaixo dos nossos olhos por pequenos demoniozinhos para nos afastarem do caminho certo?

Posted by Abelhinha at 1:13 da tarde 6 comments

quarta-feira, março 01, 2006

Objectos

Ontem no workshop foi dia de Objectos.

Todos levamos um objecto que simbolizasse para nós o teor de uma conversa anterior onde falamos de Homens, Mulheres, Relações, Encontros, Desencontros passando por “ene” detalhes da vida a dois, ou da vida a um.

Os Objectos esses, foram iguais a si mesmos, na essência que eles são para nós próprios. Um Búzio clandestino que correu mundo. Um livro que é ele próprio uma criança de 3 anos. Um maço de cigarros onde o tabaco foi substituído por amor em estado puro. Um cão sueco fiel e companheiro. Um livro exibicionista que gosta de ser observado. Um pendente bordeux e tímido, tão tímido que nem se apresenta aos outros objectos. Um medalhão, este com um simbolismo diferentes dos demais, que subiu ao mundo da mitologia e é uma Deusa.

Depois de apresentados começa a dança dos Objectos. Cada um de nós tem que ser o seu objecto.

E em breves momentos sou um maço de cigarros, não vazio como a caixa que repousa no canto, mas cheia do amor que depositei dentro dele, cheia da cumplicidade que ele representa. Como se fosse um tijolo, senti o peso que é ser o meu objecto, o peso que ele transporta em si mesmo, o peso de tudo o que ele representa para mim.

E dei por mim a perguntar:

Quem disse que os objectos não sentem?

Posted by Abelhinha at 11:55 da manhã 2 comments